Pensar demais faz cacofonia
No corpo inteiro, paralisia
Então no auge desta agonia
Confusão fabrica poesia
Ao meu redor, tudo caótico
Fico pneumoconiótico
No saber epistemológico
Do pensamento semiótico
Quem sabe consiga, qualquer dia
Organizar meu psicológico
Para jubilar em alegria
Escapar deste vil panóptico
E navegando em calmaria
Encontrar-me apoteótico
Lembro bem daquela criança
Enquanto, nos livros, me perdia
Ocupava-se em festanças
Nas adversidades, sorria
Amizades fazia em abundância
Riscos sempre assumia
Dormia demais depois da bagunça
O irmão que me fez companhia
No primeiro passo, eu duvidei
No segundo passo, escorreguei
Parei para refletir
Sem saber para onde ir
No terceiro, levantei
No quarto, tropecei
De joelhos, desisti
O caminho não era para mim
No quinto, me esforcei
No sexto, perserverei
Sem ver por onde prosseguir
A estrada eu construí
No sétimo, conquistei
No oitavo, contemplei
Só me resta inquirir
Qual destino está por vir?
Vibram descontroladas moléculas
No escuro frio da madrugada
Morfeu não faz mais, aqui, morada
Escancaram-se minhas películas
Retira do corpo energia
Mas preciso tratar mente lesada
Escreverei essa jornada
Para expor o que eu sentia
O paradoxo me escapulia
Como rarafeito ar no pulmão
Que doença meu sono destruía?
De amor não fica enfermo o coração
O incômodo da hipertermia
É consciência da solidão
A levei assim
Dois pra lá e dois pra cá
E sorriu pra mim
Repetindo a coreografia
Seu corpinho revoluciona
Agora, de uma metade é dona
Logo, da outra se apossaria
Cálido manto do frio protege
Nos braços, felpuda companhia
Inseparável até raiar o dia
Seus sonhos aleatórios rege
Sorri, brincando, a pequena dama
Num belo descanso em sua cama
Encolhia naquela cadeira
Seus pesados ombros contorcia
Inclinado para porta saideira
Ardendo, no orgulho, ferida
Não aceitaria de qualquer maneira
Manter silêncio à revelia
Sentindo na língua uma coceira
Alegou jocosa alegoria
Transformou debate em trincheira
Mas no combate que entrevera
Resposta à altura não previa
E na sua defesa costumeira
Faz a esquivante covardia
De um escudo a brincadeira